Empreendedorismo

A transição digital é uma oportunidade para combater desigualdades sociais

A Alfândega do Porto acolheu a 3.ª Conferência do Fórum Permanente para as Competências Digitais, uma iniciativa que mobiliza um conjunto de especialistas, investigadores, instituições e sociedade civil para a concretização do programa INCoDe.2030.

«O mundo está cada vez mais digital», disse Rogério Carapuça na abertura da 3.ª Conferência do Fórum Permanente para as Competências Digitais. «Há um exponencial que se criou nesta indústria e que produz os seus efeitos há 61 anos, com a criação do primeiro chip», mencionou o presidente do Fórum na Alfândega do Porto.

A Lei de Moore, que defende que a cada dezoito meses duplica a capacidade de armazenamento e de processamento, veio mudar o mundo. Na altura, os especialistas diziam que não seria possível criar um computador com capacidade de 1 GB. «Ao sê-lo, teriam que combinar-se vários computadores e gastar o equivalente ao PIB dos EUA, de 1960». Mas a evolução foi um ‘bocadinho’ diferente da esperada. Em 1983, era criado um supercomputador «que custava dezenas de milhões de euros» e, passados dez anos, já existiam algumas dezenas destas unidades a “só” custarem entre cem e duzentos mil euros. A Lei continuou a vingar e, em 2014, muitas casas já albergavam uma PS4 com 1 GB. Uma consola que em cinco anos vendeu cem milhões de unidades.

Do lado empresarial, o modelo de plataforma veio trazer um novo dinamismo ao mercado, abrindo os negócios a uma escala sem precedentes, uma abordagem efectivamente global. «Nos próximos cem anos vamos assistir a uma evolução tecnológica semelhante à dos últimos vinte mil anos da história da humanidade». No meio de toda esta evolução, a consequência é que «são precisas pessoas para trabalharem no mundo digital, para trabalharem em empresas que precisam dessa tecnologia digital e serem cidadãos de um mundo digital». O presidente enfatizou que toda a sociedade tem de ter competências digitais e todos os negócios serão impactados pela transição digital.

Capacitar para as competências digitais
No fórum foram apresentados projectos, alguns novos, outros já em curso, que têm precisamente como objectivo a capacitação dos portugueses a nível de competências digitais. Foram ainda apresentados indicadores do programa INCoDe.2030, lançado em 2018 para impulsionar «uma cidadania mais activa e um país mais qualificado e capacitado, utilizando a transformação digital para criar valor, para o país e para as pessoas». O programa conta com vários parceiros desde escolas, universidades, associações e empresas privadas.

O INCoDe.2030 assenta em cinco eixos – inclusão, educação, qualificação, especialização e investigação – que se têm multiplicado em iniciativas como o alargamento da disciplina de TIC a todos os estudantes do ensino básico, a criação das comunidades criativas para a inclusão digital, o aumento de vagas de cursos TeSP na área TICE e o desenvolvimento de projectos de inteligência artificial para entidades da administração pública.

No evento estiveram presentes membros do governo desde o primeiro-ministro António Costa, o ministro da economia e transição digital Pedro Siza Vieira e o ministro da ciência, tecnologia e ensino superior Manuel Heitor, a quem coube o encerramento da conferência. «É importante envolver todas as gerações, homens e mulheres, neste esforço de transformação digital», referiu Manuel Heitor.

António Costa salientou no Fórum que além da centralização que já existe nos jovens através do sistema de ensino, é importante que haja uma concentração naqueles que já estão no mercado do trabalho e mesmo com aqueles que, tendo já saído, não podem estar excluídos. O lema ao longo do dia foi mesmo o de ‘não deixar ninguém para trás’, com a inclusão e requalificação digital a ter sido uma das áreas mais exploradas e debatidas nos diferentes painéis.

Transformação digital é um desafio
Pedro Siza Vieira, ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, relevou no evento o facto de a transformação digital das sociedades e da economia ser o desafio mais importante que o País enfrenta. Além da capacidade de aceleração, de possibilidades de tecnologias digitais de comunicação, o aumento da capacidade de produção, de processamento, armazenamento e comunicação de dados, está-se a criar um conjunto de possibilidades no mundo dos negócios, na vida sociável, que tornará a mudança vertiginosa nos próximos dez anos.

Uma das novidades foi a assinatura do acordo do programa nacional UPskill que vai reconverter três mil trabalhadores em profissionais da área de Tecnologias de Informação, Comunicações e Eletrónica (TICE), através de formação intensiva. Um programa apoiado pelo Governo português que implementa a integração numa empresa através de um salário mínimo de 1200 euros.

O Programa INCoDe.2030, com dois anos no terreno, juntou os vários intervenientes nos cinco eixos de actuação e nos vários domínios deste consórcio. Nuno Rodrigues, coordenador-geral do programa, referiu também que já se sente uma mudança positiva que está reflectida nos principais indicadores europeus. O mais recente relatório que os responsáveis dizem será divulgado em breve, aponta para a subida de dois pontos no capital humano, relativo à capacitação digital. «Esta é uma área que está a ter uma atenção nunca antes dispensada a nível político», referiu.