Reportagem

Cidades portuguesas têm «dimensão certa» para testar soluções de smart cities

A conferência ‘Cidades Inteligentes - Um Novo Centro de Competências em Portugal?’ mostrou como é que a tecnologia pode ajudar a melhorar a vida nas cidades.

A conferência ‘Cidades Inteligentes – Um Novo Centro de Competências em Portugal?’ concluiu que os centros urbanos portugueses «são ideais» para testar soluções de smart cities.

A iniciativa, que contou com a participação da Altice, Millennium BCP, Samsung, IT People Group e a Câmara Municipal de Cascais, foi organizada pelo Portugal Agora, um projecto de cidadania que tem o objectivo de «reflectir e pensar sobre a sociedade» e que tem «uma visão para um Portugal do conhecimento, mais atractivo e empreendedor», conforme relevou o coordenador da plataforma, Carlos Sezões.

O responsável deixou um desafio aos participantes: «Já que em Portugal existem diversos projectos na área de smart cities, porque não criar um centro de competências (de cidades inteligentes) e exportar serviços para o mundo?»

Planear antes de implementar
Inês Ferreira, M2M e IoT group product manager da Altice Portugal, falou de Internet das Coisas (IoT) e disse que a empresa está a trabalhar, no âmbito de smart cities, «numa estratégia assente na proximidade com os municípios». A responsável começou por listar os factores críticos para o sucesso de um plano de cidades inteligentes: «Pensar num plano estratégico para se ter uma visão do que se quer no futuro; ter as prioridades ajustadas ao município; know-how; escalabilidade e escolher standards tecnológicos, já que há muitas soluções que ainda estão a evoluir».

Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, falou da sua experiência e concordou com o facto de se ter de planear e ter um propósito: «De nada vale termos uma solução tecnológica se não tivermos antes disso tudo uma missão muito clara para os nossos cidadãos. A nossa é fazer de Cascais o melhor sítio para viver». O autarca disse ainda que as smart cities existem para «resolver problemas dos cidadãos».

Soluções de smart cities
A responsável da Altice apresentou casos de uso em que a emnpresa está a trabalhar, nomeadamente, smart metering, eficiência energética, gestão de resíduo e de espaços verdes, monitorização ambiental, gestão de estacionamento e smart building. Inês Ferreira destacou ainda um dos standard tecnológicos em que a Altice está a apostar, o Narrowband-IoT (NB-IoT). O novo padrão, «que é específico para alguns equipamentos de Internet das Coisas com «baixo volume de transmissão de dados», tem «baixo consumo de energia» e capacidade para «a ligação massiva de dispositivos».

A executiva deu alguns exemplos já em produção com recurso a NB-IoT, entre eles o caso de telemetria de água (smart metering) em que os sensores comunicam a leitura de água e têm um sistema de alarmística para detectar e avisar casos de fugas e de fraude. A solução «permite, por exemplo, a facturação com base em dados e não em estimativas, o que traz vantagens para os municípios e cidadãos», revelou.

Luís Martins, head of marketing do IT People Group, falou de realidade aumentada (RA) e de como esta pode criar smart cities com experiências publicitárias e de marketing mais reais, possibilitar sistemas de apoio remoto a infraestruturas, serviços de apoio ao turismo ou jornalismo local com visualização das novidades da comunidade com RA. O responsável alertou para um problema de privacidade: «O potencial é tremendo mas é preciso termos consciência que estamos a dar dados em troca de serviços».

5G vai ser fundamental
Nuno de Almeida, B2B enterprise sales manager da Samsung Electronics Portugal, lembrou que a empresa acredita que as cidades «serão muito diferentes daqui a cinco anos» e que «2019 é um marco histórico já que se vai entrar numa nova era de tecnologia» que será «impulsionada pelo 5G». O responsável esclareceu que, apesar de já existirem inúmeras tecnologias inovadoras como «o IoT, cloud computing, big data, e processadores neurais», a nova rede móvel é a «peça que faltava no puzzle» e vai ser «o elemento agregador e acelerador» e que vai permitir «um novo paradigma».

Já José Gonçalo Regalado, CMO – corporate & SMEs do Millennium BCP, explicou que existem vários financiamentos disponíveis para apostar em inovação nas cidades e infraestruturas inteligentes.  

O exemplo de Cascais
Miguel Pinto Luz referiu que Cascais sempre foi «um local de inovação» e que uma prova disso é a vila recebeu a primeira instalação eléctrica pública em Portugal. Assim, o vice-presidente não tem dúvidas que «serem early adopters está no ADN do município».

O autarca acredita que Cascais está num processo de smart cities de «co-criação e construção com os cidadãos, com recursos a tecnologias abertas e dados acessíveis a todos» e deu os exemplos do Cascais ID, uma identificação única para todos os cidadãos de Cascais, que permite uma comunicação integrada e melhor com a Câmara; e da Mobicascais, «a primeira app do mundo» que deixa os utilizadores usarem serviços de bike sharing, bike parking, transportes públicos e privados, como a Uber, e estacionar.

O grande destaque foi para o Centro de Controlo de Cascais, que é designado por Cascais Cockpit e que «faz gestão de tudo o que se passa na cidade».

O centro de controlo preditivo tem um motor de inteligência artificial que antecipa problemas e Miguel Pinto Luz explicou a importância desta tecnologia: «Esta capacidade de antecipação vai permitir-nos oferecer melhor qualidade de serviço a quem nos visita e para quem vive na autarquia».

Centro de Competências em Portugal?
No final, a resposta ao desafio lançado por Carlos Sezões foi afirmativa. Nuno de Almeida disse que se deve utilizar «uma lógica de parcerias, por exemplo com startups, que enriqueçam o ecossistema das cidades inteligentes». Para o executivo, «é fundamental Portugal criar um cluster, um centro de competências» porque o «país tem uma dimensão que pode funcionar muito bem como test lab para depois as soluções serem amplificadas, escaladas para cidades de maior dimensão».

Miguel Pinto Luz é da mesma opinião e acrescentou que «a dimensão média da maioria das cidades portuguesas, como Cascais, Sintra, Amadora, Loures, Porto (duzentos a quinhentos mil habitantes), é o modelo perfeito para testar soluções e estas oportunidades de melhorar a vida das pessoas e depois escalar para um bairro de Londres e em seguida para uma grande metrópole». Assim, o autarca vê as smart cities como uma mais-valia para Portugal: «Isto dá-nos uma competitividade enorme e torna-nos o sítio ideal para implementar um centro de competências»