A Quidgest organizou a décima edição do Q-Day, uma conferência sobre TI, estratégia e inovação em que a empresa mostra as suas novidades e fala de novas tecnologias relevantes para as organizações. Este ano, o hyper agile, o lean IT e o machine learning foram os temas em destaque.
No ano em que comemora trinta anos, a Quidgest reuniu na Culturgest, em Lisboa, especialistas de diversos sectores de actividade para debater de que forma as empresas e a administração pública podem ser mais eficientes e produtivas.
No painel subordinado ao tema hyper agile e desenvolvimento de software e gestão ágil, Tiago Palhoto, lead consultant para as metodologias ágeis da Comissão Europeia, referiu que o agile destina-se a maximizar o potencial das empresas, proporcionando «um progresso baseado no produto» e que «entrega valor de forma constante». A utilização desta metodologia tem foco no cliente e assim o «trabalho é feito em pequenos ciclos com constantes iteracções que permitem ter feedback e adaptar a solução aos desejos do cliente». Este é o grande benefício do agile, de acordo com o consultor.
Mário Jesus da direcção de sistemas de informação da CGD, revelou que a primeira experiência de desenvolvimento ágil no banco aconteceu em 2009 através de Scrum, um framework agile que emprega diversas ferramentas para o desenvolvimento iteractivo e incremental, e que envolveu catorze unidades de negócio. Segundo o responsável, «os clientes só sabem o que querem quando conseguem testar o produto» e por isso ao conseguir entregas mais rápidas, é possível ir fazendo melhorias e alterações e assim ter «um produto final exactamente como o cliente pretende».
O executivo explicou que a CGD tem um «programa de transformação digital a decorrer com metodologias ágeis» e que estas têm «de chegar a todos os lados da organização, sendo este o principal desafio actual da instituição».
Carlos Nogueira, consultor da Quidgest disse que o «uso de práticas agile não está ainda generalizado» apesar de serem uma «oportunidade para maximizar o potencial das organizações». O engenheiro indicou ainda que o hyper agile é o «futuro» já que é «orientado à utilização, tem capacidade de antevisão, monitorização e adaptação à mudança e é baseado em modelação e não em codificação».
Quanto ao contributo da Quidgest nesta matéria, o responsável referiu a plataforma de geração automática de software Genio que consegue que «98% do código gerado seja automático sem necessidade de fazer código manualmente».
Qualidade e eficiência nas empresas
O lean é um conceito que privilegia a qualidade total através de melhoria contínua e a redução dos desperdícios que já provou a sua eficácia na produção industrial tendo a sua génese nas fábricas da Toyota. João Paulo Carvalho, senior partner da Quidgest, considera que a produção de software «ainda não adoptou» estes princípios e que a qualidade pode ser trazida «através de processos automatizados de verificação de erros durante o desenvolvimento e não apenas no final».
Cláudia Pargana, consultora de serviços de melhoria contínua, revelou que a «melhoria contínua permite um «aumento da competitividade, assim como, o reforço da competência dos colaboradores». A executiva referiu um projecto lean deve ser assente em três factores: «Alinhamento, mobilização e metodologia» mas que estes «têm de ser equilibrados entre si».
O primeiro é o «motor» do projecto, o segundo refere-se «ao compromisso», já que «quando juntamos um grupo, os resultados galgam» e o último, «a técnica, o como fazer». É nesta última fase que a consultora acredita que estão as maiores dificuldades das organizações em se tornarem mais ágeis. «As empresas acham que é nas metodologias que está o sucesso de um programa de melhoria contínua», refere. Na verdade, está relacionada em «criar uma cultura na empresa e nos funcionários», esclarece.
Cláudia Pargana mostrou o exemplo da Nike que com o lean manufacturing conseguiu baixar as taxas de rejeição em 50%, o time to market em 30% e aumentar a produtividade em 10%. Tudo isto através do «redesenho de processos» alicerçado no «desenvolvimento das pessoas envolvidas».
«O verdadeiro propósito do programa de melhoria contínua é o desenvolvimento das pessoas», concluiu a consultora.
Automação no centro dos negócios
Machine learning e inteligência artificial estão na ordem do dia nas empresas e, como tal, este tema não podia deixar de estar presente no Q-Day. A «disponibilidade dos dados e o aumento do poder de computação foram essenciais para o desenvolvimento machine learning», disse Daniel Silva, coordenador da área de informação e de saúde na Quidgest.
João Magalhães, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, falou do trabalho de big data minig desenvolvido no laboratório de informática da instituição de ensino superior. O docente falou dos projectos de opinion mining que analisam «opiniões sobre determinado produto e serviço na Web» e através de «algoritmos de machine learning que conseguem determinar os gostos dos utilizadores e oferecer insights e propostas de recomendação». Uma das conclusões foi, por exemplo, que «é negativo para a Disney ser citada com ‘Miley Cyrus’, mas positivo se for referenciada em conjunto com ‘Hannah Montana’, personagem interpretada pela cantora».
Outro exemplo dado pelo professor foi na área da saúde, mais precisamente nos ensaios clínicos. O laboratório da Nova está a desenvolver um projecto para encontrar pacientes que «reúnam os critérios clínicos para testar um medicamento novo». Com base em machine learning, é possível fazer «um match automático entre pacientes e os critérios dos ensaios em que podem entrar». Assim, o processo demora «pouca horas» quando antes demorava vários dias ou até semanas.
Quanto aos desafios legais, Catarina Mascarenhas, associada coordenadora do escritório de advogados Vieira d’Almeida, referiu que a Lei é «reactiva e está sempre atrás da tecnologia» e que a «tomada de decisão por máquinas sem intervenção humana» é algo que levanta «questões éticas». Para a advogada, são primeiramente os developers que devem ter essas preocupações. Os programadores «devem ter códigos de ética para que os algoritmos não sejam usados para outras tarefas». A coordenadora disse ainda que deve «ser criado um estatuto jurídico controlado por uma agência reguladora e seguros obrigatórios» para acautelar situações jurídicas decorrentes do mau uso da tecnologia.
Já João Paulo Carvalho defendeu que as empresas tecnológicas devem apostar em machine learning e deixou o repto: «Temos obrigação de deixar as máquinas fazer tudo aquilo de que são capazes porque todos vamos ganhar com isso».