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Na luta pela supremacia quântica

À medida que o ritmo de recolha de dados avança, chegamos perto do limite do actual poder de processamento dos computadores tradicionais. A computação quântica promete ser o próximo passo, as grandes marcas já estão a investir, mas ainda estamos longe de a ver aplicada ao dia-a-dia das empresas.

A história tem-nos ensinado que não há limites. Hoje, temos no bolso, em forma de telemóvel, uma ferramenta com mais capacidade de processamento do que um computador que antes ocupava uma sala. E uma sala não é, de todo, um exagero, pelo contrário. Aquele que é considerado o primeiro computador do mundo, o ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer) pesava umas modestas 30 toneladas, media 5,50 metros de altura e 25 metros de comprimento. Ao todo, eram necessários 180 m² para poder alojar o equipamento com as suas 70 mil resistências e 17 468 válvulas a vácuo. Reza a “lenda” que, quando accionado pela primeira vez, o ENIAC consumiu tanta energia que as luzes de Filadélfia, nos Estados Unidos, piscaram. Mas, apesar do seu portentoso tamanho, a verdade é que a sua capacidade de processamento e computação era, deveras, limitada.

Isto é impensável para a actualidade que tem de lidar com o facto de produzirmos diariamente 2,5 exabytes de dados, o que equivale a 250 mil bibliotecas do Congresso Americano ou ao conteúdo de 5 milhões de portáteis. A todos minutos, 3,2 mil milhões de utilizadores globais daIinternet continuam a alimentar os bancos de dados com 9722 pins no Pinterest, 347 222 tweets, 4,2 milhões de likes no Facebook, mais todos os outros dados que criamos tirando fotos e vídeos, guardando documentos, clicando em produtos em sites de compras ou publicidade, abrindo contas…

Muitos dizem que estamos no limite do poder de processamento de dados dos computadores tradicionais, ainda para mais sabendo que os dados continuam a crescer. Enquanto a Lei de Moore, que prevê que o número de componentes por circuito integrado (as memórias dos computadores) duplica a cada dois anos, se mostrou extremamente resiliente desde que o termo foi cunhado em 1965, esses transístores são agora tão pequenos quanto o que pode ser feito com a actual tecnologia. Daí haver uma corrida entre os líderes mundiais deste sector para definir quem será o primeiro a lançar um computador quântico viável que seria exponencialmente mais poderoso do que os computadores actuais para processar todos os dados que geramos todos os dias e resolver problemas cada vez mais complexos.

iPhone Q? Não….

Calma: se a indústria de tecnologia conseguir este salto quântico, não quer dizer que iremos andar com um computador quântico no bolso. [Para memória futura, o melhor é acrescentar: ‘pelo menos, para já’]. Por isso, como satiricamente escreve a Wired, «não comece a economizar para um iPhone Q». Apesar de não irmos andar com tamanho poder de computação no bolso, a verdade é que podemos assistir a melhorias significativas em muitas áreas da ciência e da tecnologia, como baterias de longa duração para carros eléctricos ou avanços na química que reformulam as indústrias ou possibilitam novos tratamentos médicos. Os computadores quânticos não conseguirão fazer tudo mais rápido que os computadores convencionais, mas, em alguns problemas complicados, têm vantagens que permitirão um progresso impressionante.

E vai demorar muito? Provavelmente, sim, ainda estará a uns bons anos de distância. Facto é que o protótipo de hardware de computação quântica ainda é embrionário. Mas nem tudo são “más notícias”. Os computadores alimentados pela física quântica começaram a ganhar um novo dinamismo (leia-se importância e, desde logo, investimento) entre os gigantes desta indústria.

Questionamos as grandes multinacionais com presença nacional para nos ajudarem a perceber o que está a ser feito neste campo e se haveria alguém em Portugal que falasse connosco e nos explicasse toda esta temática. Mas por parte das marcas foi complicado e todas elas nos reportaram para executivos internacionais, pelo que depreendemos que em Portugal ainda pouco ou nada esteja a ser feito fora do mundo académico.

Lá fora, as coisas vão andando, tendo a Google, a IBM e outras empresas decidido ser hora de investir fortemente nesta tecnologia, o que, por sua vez, ajudou a computação quântica a obter lugar de destaque na estratégia corporativa das grandes empresas em áreas como finanças, como o caso da JPMorgan, e no sector aeroespacial, como a Airbus. Em 2017, investidores de capital de risco “disponibilizaram” 241 milhões de euros em startups que trabalham com hardware ou software de computação quântica em todo o mundo, de acordo com a CB Insights. Isto é o triplo do valor no ano anterior.

Resumo: por toda a comunicação social especializada e seguindo alguns blogues desta área, é mais do que visível que há um hype quântico a flutuar sobre Silicon Valley. O enorme potencial desta área é inegável e o hardware necessário para aproveitá-lo está a avançar rapidamente.