O SAS Fórum regressou ao Centro de Congressos de Lisboa para demonstrar que os dados são o “petróleo” do século XXI e que a analítica é já «indispensável» na tomada de decisão das empresas que querem ser bem-sucedidas.
Foi com casa cheia que teve início mais uma edição do SAS Fórum Portugal, o evento que todos os anos debate o crescente papel que o analytics tem no mundo corporativo e na sociedade. Ricardo Pires Silva, executive director do SAS Portugal, vincou que a «analítica está em todo o lado» e que a empresa quer «levá-la a todos». É que os dados já estão no centro das decisões de quase tudo o que fazemos ou do que está à nossa volta, como exemplificou. É o caso do futebol, da saúde, dos transportes e do ambiente. O executivo deixou um repto aos presentes: «Ansiamos pelos vossos problemas, tragam-nos as vossas questões pois tudo começa aí».
O impacto e as oportunidades da analítica no futuro das organizações foi o tema debatido por André Simões Cardoso, da Fidelidade, Arlindo Oliveira, do Instituto Superior Técnico (IST) e Rui Teixeira, do Millenniumbcp. Quando questionado sobre a maturidade do analytics na sua organização, o administrador do maior banco privado português respondeu que «ainda não é muita» porque a tecnologia «está sempre a evoluir», apesar de haver uma «clara aposta na área». O presidente do IST referiu que «em casa de ferreiro, espeto de pau» pois a universidade «deveria estar na linha da frente a usar este tipo de tecnologia, mas ainda não está».
Já a realidade da Fidelidade é outra: o administrador acredita que a sua organização tem já alguma maturidade pois a «análise de dados é usada e em vários processos da cadeia de valor». O administrador indicou que os dados estão a transformar as seguradoras de «risk takers em risk managers», uma vez que agora trabalham mais na prevenção.
Escassez de talento é o principal desafio
Para Rui Teixeira, o maior desafio relacionado com a analítica «é a escassez de recursos qualificados», dado que existe um «desfasamento entre a tecnologia e os condutores dessa tecnologia». Arlindo Oliveira explicou que o Técnico tem «cerca de quatrocentos alunos de mestrado em áreas revelantes para a análise de dados» mas que as pessoas que saem das universidades são «claramente insuficientes dado que o mercado precisa de muitas mais».
Segundo o responsável, «há cerca de setecentas mil posições nas Tecnologias de Informação para preencher na Europa e sete mil em Portugal», acrescentou. Mas o IST não está parado e lançou o Técnico Mais, uma iniciativa de formação ao longo da vida que vai tentar especializar mais pessoas na área das TIC. O professor alertou ainda para a questão da emigração dado que «o desenvolvimento de Portugal, ao nível tecnológico, está a ser travado pela dificuldade em reter os recursos humanos».
Novas tecnologias são uma oportunidade transversal a todos os setores
A tecnologia é um facilitador e «a inteligência artificial e o machine learning vão permitir uma maior automatização e reduzir custos dos processos na banca» disse o responsável do Millenniumbcp, que referiu ainda que o desafio é o «de trabalhar em parceria com as fintechs».
Arlindo Oliveira indicou que a inteligência artificial tem três componentes: uma de analytics, «que corresponde a 90% do valor económico» desta tecnologia, «uma segunda que corresponde à capacidade destes sistemas substituírem os trabalhos humanos e uma terceira que é a investigação. A chamada strong AI que são sistemas desenvolvidos para atingir os níveis de inteligência humana».
O presidente do IST considera que a segunda componente terá um grande desenvolvimento nos próximos anos em diversos setores de actividade. «Os objectivos da análise de dados devem estar bem alinhados com os objectivos do que realmente queremos» para que as «respostas não saiam ao lado», alertou o docente.
André Simões Cardoso considera que «gestão da dicotomia sentimento/computação vai determinar a velocidade da adopção de novas tecnologias» por parte do mundo corporativo. «O analytics é usado para descobrir conhecimento» e «a bem da sociedade é preciso reflectir quais as fronteiras que não se deve ultrapassar (quando se fala de analítica)» finalizou o executivo.
Dados devem ser usado para criar uma sociedade melhor
Hannah Fry, professora de Mathematics of Cities no Center for Advanced Spatial Analysis da University College of London (UCL) foi a convidada principal do SAS Fórum deste ano sendo o tema da sua palestra «Being Human». Para esta investigadora a «matemática ajuda a encontrar padrões e a perceber o que significa ser-se humano».
A docente mostrou como os dados em tempo real permitem ter novas e melhores informações sobre as cidades dando exemplos sobre os sistemas de transportes de Londres. «Os dados ajudam-nos a entender melhor as cidades e o comportamento humano», indicou.
A professora da UCL acredita que «a tecnologia está a fazer as pessoas sentirem-se mais humanas e não menos» e demonstrou isso com o caso de um sistema de monitorização destinado à terceira idade que recolhe dados e analisa os comportamentos normais e que em caso de anomalia envia avisos.
Os filhos dessas pessoas dizem que agora sabem que os pais estão bem e assim quando ligam já não precisam de perguntar se jantaram ou desligaram o gás, pois nesse caso o sistema teria enviado um alerta, e podem falar de outros assuntos como futebol ou que passou na televisão. Para Hannah Fry o futuro é «usar machine learning e matemática para encontrar significado nos dados e assim conseguirmos melhorar enquanto pessoas».