Além Fronteiras

Fujitsu: da computação (quase) quântica à híper monitorização

Fujitsu Mobile World Congress 2018

Inteligência Artificial, 5G, carros conectados, cidades inteligentes, Indústria 4.0, co-criação digital, IoT… de tudo um pouco existia no espaço que a Fujitsu apresentou nesta edição do Mobile World Congress.

Das várias novidades que a Fujitsu tinha em exposição e que foram comunicadas durante o Mobile World Congress 2018, houve algumas que claramente chamaram mais a nossa atenção. Primeiro, o uso da Inteligência Artificial (IA) para detectar retinopatia diabética, a primeira causa da cegueira. A tecnologia foi desenhada pela divisão de IA do Fujitsu Laboratories em Londres: o objectivo é detectar de forma precoce desta patologia, que é a principal causa de cegueira no mundo desenvolvido.

Graças à tecnologia agora apresentada, os médicos podem usar imagens de alta resolução e ter uma elevada percentagem de sucesso no diagnóstico precoce. Isto vai permitir acelerar tratamentos para evitar problemas, mais tarde.
Até o momento não era possível desenvolver esse tipo de tecnologia e o seu processamento, basicamente devido à alta necessidade de recursos computacionais. A investigação decorre há já um ano e pode ser usada em outros sectores onde a imagem se torna o requisito de prioridade.

Computação (quase) quântica

Não se pode chamar propriamente ‘computação quântica’, mas estará lá perto. A Fujitsu trouxe ao MWC a Digital Annealer, uma plataforma que tem uma arquitectura capaz de, instantaneamente, solucionar problemas de optimização combinatória em larga escala. Ou seja, operações que demorariam anos demoram literalmente segundos.

Esta tecnologia tem como grande objectivo colmatar a lacuna entre as arquitecturas informáticas clássicas e os computadores quânticos, fornecendo um poder computacional prático, mas impressionante, que pode ser implementado nas infra-estruturas existentes. A arquitectura emprega tecnologia de semicondutores convencional com configurações de circuitos flexíveis, o que lhe permite lidar com um conjunto de problemas mais alargado do que aqueles com que a tecnologia informática quântica actual consegue lidar.

A grande vantagem da Digital Annealer é que funciona à temperatura ambiente, ao contrário da computação quântica que requer soluções de arrefecimento complexas para alcançar temperaturas muito próximas do zero absoluto (-273 graus Celsius). A plataforma foi-nos apresentada como ideal para cenários de resolução de problemas combinatórios com aplicações do mundo real, como a comparação de semelhanças moleculares para o desenvolvimento de novas drogas, ou para a optimização de portfólios de investimento.

 

O poder da co-criação

Outra inovação que a Fujitsu trouxe para esta edição da feira de Barcelona foi uma tecnologia interactiva para centros de co-criação e design thinking. Consiste em dois ecrãs sensíveis ao toque, que gravam os esboços, anotações ou desenhos criados nos vários projectos de co-criação com os clientes.

Em contraste com a versão analógica dessas metodologias (post-it, marcadores, etc.), trabalhar em ecrã oferece uma série de vantagens. Fundamentalmente, a possibilidade de continuar o trabalho em diferentes locais (o trabalho avançado é armazenado na nuvem) ou enviar aos clientes o progresso que está a ser feito.

A Fujitsu tem trabalhado com metodologias de design thinking na Europa há já vários anos, mas esta ferramenta dá a toda a organização uma experiência mais uniforme para a sua estratégia de co-criação com clientes e parceiros.
Está prevista que a primeira instalação deste tipo se inaugure em Munique, seguido por Londres e Estocolmo.

Tradutor em dezanove idiomas

Mas o que chamou realmente a atenção neste MWC foi o lançamento de um tradutor para dezanove idiomas, entre eles o português. Chama-se Fujitsu Talk e tinha o defeito de, até agora, só ser vendido exclusivamente no Japão. A multinacional aproveitou este evento para lançá-lo internacionalmente.

Não há muito por onde explorar: falamos e, imediatamente, o ecrã traduz o que dissermos para qualquer um dos idiomas disponíveis na solução. E, na verdade, funciona muito bem. A empresa explicou que é usado principalmente em videoconferências, mas que também pode ser uma solução para pessoas com deficiência auditiva.

A origem da Fujitsu Talk data de 2015 e foi criada precisamente para dar uma solução às pessoas surdas, mas ao longo do tempo a empresa encontrou outros casos de uso. Actualmente, o Fujitsu Talk é um software de desktop, embora no Japão eles já tenham uma versão beta na forma de uma aplicação, tanto para dispositivos Android como para iOS.

 

O “espião” Colmina

Não era de todo a coisa mais fancy ou cool do stand da Fujitsu. Mas quando nos deram uma breve explicação, percebemos a sua importância num contexto fabril. Chama-se Colmina, era vendida apenas no Japão e está agora implementada na unidade que a própria Fujitsu tem em Augsburg, uma cidade da Baviera.

De uma forma simplista, esta plataforma congrega todo o tipo de informação digital de fabrico, desde o design à produção e manutenção. Ou seja, liga dados sobre a localização de pessoas e produtos, equipamentos de fábrica e todos os sistemas e know-how ao longo do processo de fabrico, bem como dados entre as empresas da cadeia de abastecimento.

Pelo que nos foi dado a ver (vimos em tempo real a gestão da fábrica de Augsburg mas a solução é aplicável a empresas com múltiplas fábricas, em distintas geografias) a plataforma recolhe e processa dados de sensores, como operações de equipamentos, sinais vitais de pessoas e a localização dos produtos. O que realmente isto implica é que, tendo acesso a todos estes dados, as tomadas de decisão e a partilha de informação sejam extremamente rápidas.

Claro que estamos a falar de plataformas de podem chegar ao meio milhão de euros, mas na Fujitsu garantiram-nos que o Retorno do Investimento (ROI) não será superior a um ano, já que pode aumentar a produtividade entre os 5% e os 10%.