A economia portuguesa está a atravessar uma transformação silenciosa, mas estrutural, que o ‘Estudo do Impacto da Economia Digital em Portugal’, desenvolvido pela Porto Business School em parceria com a ACEPI e a GoingNext, descreve com detalhe quase cirúrgico. Segundo o documento, o digital representa já 39% da produção nacional e 23% do emprego, valores que, por si só, dispensariam comentário, mas que ganham outra dimensão quando analisados à luz da evolução dos últimos anos e da forma como a tecnologia passou a infiltrar-se em sectores que antes viviam com ritmos e lógicas analógicas. Lê-se no estudo que a economia digital deixou de ser um sector isolado para se tornar «uma infraestrutura económica transversal», que não apenas suporta a actividade económica, mas a condiciona, molda e redefine.
É precisamente esta transversalidade que explica a consolidação do digital enquanto motor de crescimento. Filipe Grilo, coordenador científico do estudo, confirma-o sem hesitação: «A consolidação da economia digital em Portugal, que representa hoje 39% da produção nacional e 23% do emprego, deve-se, sobretudo, à incorporação crescente de tecnologia em sectores tradicionalmente não tecnológicos». O documento mostra que esta mudança não ocorreu apenas em áreas naturalmente tecnológicas, mas em sectores tão variados como comércio, indústria, logística, energia, serviços empresariais e construção. Segundo o responsável, «o mais relevante é que o digital deixou de ser um sector isolado e passou a ser uma camada transversal, incorporada nas cadeias de valor de quase todas as áreas de actividade», e é precisamente essa capacidade de infiltração que explica o peso económico que agora assume.
Uso intensivo de software
O estudo dedica largas secções à análise sectorial e territorial, mostrando que sectores como as actividades de informação e comunicação e as actividades científicas, técnicas e de consultoria estão entre os mais intensivos em tecnologia. Neles, a digitalização traduz-se num uso intensivo de software, análise de dados e automatização de processos.
Mas a verdadeira escala do fenómeno só se compreende quando se olha para sectores intermédios – como indústria, comércio ou transportes – que, apesar de níveis de maturidade digital menos elevados, têm uma escala operacional tal que mesmo digitalizações parciais produzem impactos colectivos significativos. O estudo sublinha este ponto ao afirmar que «a digitalização difunde-se de forma diferenciada entre sectores, mas o impacto agregado depende tanto da intensidade como da amplitude da adopção».
Se a incorporação tecnológica explica parte do fenómeno, o estudo indica outra dimensão igualmente importante: a transformação dos modelos de negócio. Lê-se no documento que «digitalizar não é informatizar», é remodelar a forma como as organizações funcionam, como gerem talento, como tomam decisões e como criam valor. O estudo evidencia que empresas mais digitais são também mais produtivas, mais resilientes e mais inovadoras, revelando uma relação clara entre maturidade tecnológica e capacidade de adaptação. É essa evidência que sustenta o argumento de que o digital é hoje o principal motor estrutural da economia portuguesa.









