NotíciasSegurança

Portugal lidera lista dos países menos afectados por fraude em pagamentos digitais

Apesar dos mais de 216 mil casos registados, a perda média por incidente no País é a mais baixa da Europa: apenas 64 euros.

lifeforstock / Freepik

A fraude em pagamentos digitais disparou 43% na Europa em 2024, impulsionada pelo uso crescente e sofisticado de inteligência artificial. O alerta é dado pela Autoridade Bancária Europeia, que estima que o valor total das fraudes nos principais instrumentos de pagamento tenha atingido 4,3 mil milhões de euros em 2022, a que se somaram mais dois mil milhões apenas no primeiro semestre de 2023.

Ainda assim, o impacto não se distribui de forma uniforme pelo continente. Uma análise conduzida pela BrokerChooser mostra que há países onde o peso financeiro da fraude é menor e outros onde as perdas se revelam esmagadoras. Para além dos montantes totais, os especialistas calcularam quantos salários anuais em tempo inteiro seriam necessários para compensar os prejuízos, uma forma de traduzir em termos concretos o impacto económico em cada sociedade.

Portugal tem muitos casos..mas prejuízos limitados
Portugal lidera a lista dos países menos afectados financeiramente. Segundo esta análise, foram registados 216 mil casos de fraude, mas as perdas ficaram-se pelos 13,8 milhões de euros, o que se traduz numa média de apenas 64 euros por incidente, ou seja, o valor mais baixo de toda a Europa. O retrato mostra que, apesar da elevada incidência, o peso financeiro é reduzido quando comparado com outras geografias.

A esmagadora maioria dos incidentes esteve ligada a fraudes com emissores de cartões, responsáveis por 211 648 casos e por quase três quartos das perdas totais, no valor de 9,8 milhões de euros. Seguiram-se as transferências bancárias fraudulentas, que somaram 3,5 milhões. No conjunto, seriam necessários os rendimentos anuais de apenas três mil trabalhadores a tempo inteiro para compensar o impacto, um número modesto face às realidades mais severas do norte da Europa.

«Este dado é particularmente relevante quando se compara a dimensão dos mercados financeiros» comentou a businessIT Miguel Abreu, economista especializado em regulação financeira. «Apesar de Portugal apresentar níveis de digitalização crescentes e um aumento do comércio electrónico, a severidade dos ataques revela-se mais baixa». O contraste sugere, segundo o economista, que a fraude, embora presente, tem menor capacidade destrutiva no tecido económico português, onde os valores médios das transacções e dos prejuízos associados tendem a ser inferiores.

Espanha e Itália completam o pódio
Também Espanha surge entre os países menos penalizados, apesar de ter registado mais de 1,2 milhões de casos, o segundo valor mais elevado do continente, logo atrás dos Países Baixos. O total de perdas ascendeu a 118 milhões de euros, mas a média por fraude manteve-se em 98 euros, posicionando o país no segundo lugar do ranking.

Logo depois aparece a Itália, com 616 657 incidentes e 82 milhões de euros em prejuízos. Aqui, a perda média por fraude foi de 133 euros, o terceiro valor mais baixo da Europa. Em comum, Portugal, Espanha e Itália revelam um padrão distinto: uma elevada frequência de incidentes, mas um impacto financeiro relativamente contido. «O perfil destas economias ajuda a compreender esta realidade. São mercados com grande penetração de pagamentos por cartão, mas também com práticas de consumo e regulação que tornam a fraude mais difusa, dispersa por pequenos incidentes, em vez de concentrada em operações de elevado valor», explicou Miguel Abreu.

Países intermédios revelam perdas
Entre os extremos Sul e Norte, encontram-se países como os Países Baixos, Luxemburgo ou Irlanda. Os neerlandeses registaram quase dois milhões de casos – o número mais elevado da Europa – que resultaram em perdas de 262 milhões de euros, uma média de 137 euros por fraude. Já o Luxemburgo, com 286 mil incidentes e 44,8 milhões em perdas, apresenta uma média de 156 euros. A Irlanda, por sua vez, registou duzentos mil casos e prejuízos de quase 55 milhões, o que equivale a uma média de 274 euros por fraude. «Estes países mostram como um maior dinamismo financeiro e bancário, com grande volume de transacções internacionais, expõe os consumidores a riscos mais elevados», sublinhou o economista, salientando que, ainda assim, a média por fraude permanece distante dos valores registados no norte da Europa, onde os prejuízos individuais atingem dimensões muito superiores.

O norte da Europa: um epicentro de perdas elevadas
O cenário muda radicalmente quando se olha para os países nórdicos. A Finlândia lidera a lista dos mais atingidos, com uma perda média de 593 euros por fraude, quase dez vezes mais do que Portugal. Foram registados perto de quarenta mil casos, que resultaram em 23,6 milhões de euros em prejuízos. Só as transferências bancárias fraudulentas representaram 20,5 milhões desse total, equivalendo a 87% das perdas.

Na Islândia, o número de casos foi bem menor, apenas 9 588, mas o prejuízo total ultrapassou os 5,2 milhões de euros, com uma média de 545 euros por fraude. Graças ao elevado rendimento médio no país, seriam precisos apenas 278 trabalhadores a tempo inteiro para absorver o impacto – o número mais baixo da Europa.

A Noruega completa o pódio dos países mais penalizados: 71 515 casos, 35 milhões de euros em perdas e uma média de 488 euros por incidente. Em comparação, a Dinamarca, com 85 mil casos e trinta milhões de euros em prejuízos, apresenta uma média de 358 euros, significativamente abaixo dos restantes vizinhos nórdicos, mas ainda muito acima dos países do sul.

O alerta dos especialistas
Para Adam Nasli, da BrokerChooser, os números não deixam margem para dúvidas. «Com a fraude em pagamentos a infligir perdas pesadas em toda a Europa, a necessidade de literacia financeira e vigilância nunca foi tão grande. Seja em viagens, investimentos ou transacções cambiais, as pessoas envolvem-se regularmente em operações internacionais, tornando os métodos de pagamento seguros cruciais».

Adam Nasli sublinha que «um único ponto fraco – como um dado bancário comprometido – pode rapidamente apagar ganhos financeiros através de fraude ou roubo». O especialista, de resto uma opinião ‘validada’ por Miguel Abreu, defende que a vigilância deve ser constante e reforçada em ambientes de maior risco, como o mercado cambial, onde a velocidade e o volume das operações aumentam a exposição. «É fundamental escolher prestadores de serviços financeiros de confiança, que priorizem a transparência, a conformidade regulatória e protocolos de segurança avançados. Estes devem ser factores não negociáveis para quem pretende proteger os seus activos».

Deixe um comentário