Reportagem

A tecnologia digital é essencial para «enfrentar os desafios de sustentabilidade»

A terceira edição do Digital With Purpose Global Summit, que decorreu no Centro de Congressos do Estoril, revelou de que forma é que o digital está a ajudar as cidades a serem mais inteligentes e eficientes.

Luís Neves © GeSi

O evento organizado pela Global Enabling Sustainability Initiative (GeSI) com foco no digital e na sustentabilidade juntou cerca de trezentos especialistas nacionais e internacionais. As atenções centraram-se em três grandes áreas: a educação, a biodiversidade e as smart cities. Luís Neves, CEO da GeSI, explicou que o Digital with Purpose (DWP), que teve origem em 2019, é um movimento que procura aproveitar o poder das tecnologias digitais para enfrentar os desafios da sustentabilidade e promover os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Luís Neves esclareceu que, no seu primeiro relatório, a iniciativa conseguiu «ligar sete tecnologias digitais aos dezassete ODS» e demonstrar que «65% desses objectivos têm uma correlação positiva com um aumento do acesso digital».

Contudo, o responsável alertou que faltam «ferramentas, modelos empresariais, talento, competências e colaborações para aproveitar plenamente o potencial da digitalização» e relembrou que o DWP criou uma framework de sustentabilidade com avaliação do desempenho, responsabilização, validação por terceiros. Esta é a norma mais abrangente do mercado e, até ao final de 2024, estará alinhada com os requisitos da Corporate Sustainability Reporting Directive da União Europeia. Luís Neves afirmou que estas framework se está a tornar a norma nas PME nas fases iniciais do seu percurso de sustentabilidade, o que, em Portugal, acontece através da parceria com o IAPMEI, que representa mais de quatrocentas mil empresas nacionais.

O papel dos líderes
No painel ‘Are CEOs Doing Enough To Drive Corporate Sustainability?’ Nizar Kammourie, CEO do Sawaco Water Group, explicou que a «sustentabilidade não é já uma buzzword, mas a única forma de avançar» e que é «necessário integrá-la na estratégia e em toda a empresa». O responsável sublinhou ainda que «sem inovação não é possível ter sustentabilidade significativa» e que as empresas que não forem sustentáveis «não vão conseguir fazer negócio».

Por outro lado, Fernando Reino da Costa, CEO da Unipartner, salientou que «quando as organizações se comprometem com a sustentabilidade, têm de ter um roadmap para transformar os negócios» e «medir a sua pegada para conseguirem atingir os objectivos». Já Luísa Ribeiro Lopes, presidente do .PT, indicou que esta foi a primeira entidade em Portugal a obter o ‘Selo de Maturidade Digital em Sustentabilidade’ e que as pessoas «devem estar no centro das preocupações» das empresas, quando se fala das questões ambientais. Já Radoslaw Kedzia, SVP of the european region da Huawei, disse que a empresa está «muito centrada no cliente e ouve o querem», o que leva a tecnológica a estar «um passo à frente» em termos de sustentabilidade. Assim, «nos últimos dez anos, a Huawei baixou o consumo energia das suas soluções em 2,7 vezes através de I&D» e assegurou que os problemas em foco na cimeira «só podem ser resolvidos com a ajuda da tecnologia».

Cidades cada vez mais inteligentes
Num dos debates sobre smart cities e eficiência energética, Doug Aaron (executive director strategic public-private partnerships do National Renewable Energy Laboratory, um laboratório centrado na investigação sobre energia limpa, edifícios inteligentes e segurança digital) explicou que a IA pode ajudar a «optimizar o consumo de energia ao nível doméstico e urbano», por exemplo na «gestão de dispositivos inteligentes, sistemas de energia doméstica, veículos eléctricos e na análise de factores como o horário de funcionamento, as tarifas eléctricas e a disponibilidade de energia solar».

Para este responsável, a IA tem um «imenso potencial para melhorar a eficiência e sustentabilidade das cidades», algo com que Jane Cohen (senior program manager da International Energy Agency) também concorda. A responsável avançou que a digitalização e a IA são «essenciais para atingir os objectivos de eficiência energética» e que, para isso, é preciso «garantir a integração de dados e a interoperabilidade entre sistemas para se conseguir tirar benefícios» dessa tecnologia. Além disso, Jane Cohen referiu que a «verdadeira revolução» vai acontecer quando as «pessoas compreenderem o impacto que têm, enquanto indivíduos no sistema energético».

Por seu turno, Mark Cathcart, director of environment da Greater Manchester Combined Authority, revelou como esta comunidade inglesa esta a usar o digital para ser mais “verde” e deu alguns exemplos, como o uso de «dados e soluções para desenvolver um plano para atingir a neutralidade carbónica até 2038»; um «projecto de gestão inteligente da energia doméstica com 5G para saber, de forma remota, quando são usados os aquecimentos e antecipar picos de procura de energia»; e a criação de «gémeos digitais para planear as alterações necessárias às infra-estruturas para fazer a descarbonização».

Digital é fundamental
Da cimeira realizada no município de Cascais saiu um plano de acção que, no caso das smart cities, quer acelerar as «transições sistémicas»; aumentar o «acesso aos dados e a interoperabilidade dos sistemas»; criar um «Laboratório de IA com Propósito»; permitir o acesso a soluções inclusivas; disponibilizar «formações e conhecimentos sobre soluções digitais para as cidades»; ter «novas abordagens para a concepção e a implantação de soluções digitais a preços acessíveis»; e fazer das políticas e soluções sustentáveis a «escolha, por defeito, para abordar os desafios que o mundo enfrenta».

À businessIT, Luís Neves fez o balanço desta edição do DWP Global Summit: «Foi bastante positivo, com três dias muito intensos e produtivos. É unânime que o digital é a chave para enfrentar os desafios de sustentabilidade mais urgentes e para capacitar os líderes mundiais na construção de um futuro mais sustentável». Além disso, acrescentou que «urge difundir» esta mensagem junto do «sector público e privado, PME, startups, indústrias e cidades» para que «acelerem a implementação de inovações e de soluções digitais que permitam ajudar a preservar e proteger todas as formas de vida e a gerir os recursos de uma forma mais eficiente».

Sobre a jornada do País nesta transição digital e verde, Luís Neves foi peremptório: «Queremos fazer de Portugal o ‘país do propósito’. Considero que é importante deixar uma marca e alertar que o digital e a sustentabilidade são dois temas centrais do progresso e do bem-estar social. Há bons exemplos em Portugal – cidades como Braga e Cascais apresentam-se, até, como pioneiras em algumas áreas de inovação e da sustentabilidade. Portugal está a fazer o seu caminho, mas tem ainda uma longa estrada a percorrer».