O trabalho híbrido fez aumentar as necessidades tecnológicas das empresas e particulares. As vendas subiram drasticamente em 2021 e 2022, mas espera-se um “arrefecimento” da procura no primeiro trimestre deste ano. Em entrevista, José Correia, director-geral da HP Portugal, confessa que as empresas olham cada vez mais para a sustentabilidade como um critério para a escolha de um fornecedor.
Actualmente, como podemos definir a HP?
É uma empresa que, essencialmente, tem como foco duas grandes linhas de produto: a computação pessoal e os sistemas de impressão, áreas que têm sofrido uma grande evolução e transformação, nomeadamente pela adopção do trabalho híbrido. As empresas têm, agora, uma forma diferente de gerir os equipamentos.
Devido a essas novas necessidades do trabalho remoto, tiveram um ‘boom’ de negócio no primeiro ano de pandemia…
Esta foi uma das áreas tecnológicas que, numa primeira fase, mais esteve na frente da, digamos, solução do problema. Há muito tempo que tínhamos projectado, como parte da nossa estratégia, que o computador iria ser cada vez mais portátil, com as pessoas a trabalharem em qualquer lado, não estando alocadas a um sítio específico. A pandemia veio materializar tudo isto, mas de uma forma mandatória. Dizíamos que eram as novas gerações que iriam trazer essa nova forma de querer trabalhar, mas a partir de 12 de Março de 2020, essa forma impôs-se face a todas as regras existentes.
Obviamente, havia empresas mais bem preparadas, que tinham mais computadores portáteis que de secretária, empresas que, de alguma maneira, tinham os seus processos mais digitalizados e as redes preparadas para as pessoas trabalharem a partir de casa, como se estivessem na empresa. Na HP, já vivíamos isso, era uma realidade que já existia muito antes da pandemia. No dia a seguir ao confinamento ser anunciado, já trabalhávamos exactamente como se estivéssemos no escritório. É verdade que, nesse momento, começámos a ter uma procura muito grande: foram semanas e meses a ajudar os nossos clientes a manterem o seu negócio, sem disrupções, o que se tornou um grande desafio. A área da computação foi a que, de uma forma mais rápida, teve de apresentar soluções para que as pessoas pudessem trabalhar e os alunos pudessem continuar a estudar – um computador deixou de servir para duas crianças, passou a ter de ser um PC por cada elemento da família. Por outro lado, os computadores que as pessoas tinham não satisfaziam as necessidades porque, por exemplo, não tinham webcam. Em 2020, o mercado teve um crescimento significativo, mas os anos de grande ‘boom’ foram 2021 e 2022.
As empresas anteciparam os seus ciclos de renovação de tecnologia? Há uma transição de negócios para outras áreas?
Por via do nosso negócio, conseguimos ter uma visão do mercado português, porque estamos presentes nos dois grandes segmentos: consumo e empresarial. Este último, cresceu muito desde 2020, porque as empresas tiveram de dotar os seus colaboradores com novos equipamentos e investiram muito na renovação do parque. Também no segmento empresarial, não nos podemos esquecer de que o Estado português comprou mais de um milhão de computadores. Isto trouxe uma dinâmica muito grande ao mercado, permitindo que os números, praticamente, duplicassem nos últimos anos. Essa procura, já satisfeita, começou a abrandar no segundo semestre do ano passado e deverá continuar a diminuir no primeiro semestre deste ano. No entanto, este abrandamento ao nível empresarial tem sempre duas leituras possíveis: uma, tem que ver com o facto de os parques terem sido renovados nos últimos dois anos; por outro lado, também não podemos esquecer de que, do ponto de vista macroeconómico, existe muita incerteza nos mercados, o que faz com que o investimento tenha um maior escrutínio. Acreditamos que, no final deste ano, iremos conseguir estar na vertente empresarial mais ou menos em linha com o ano passado.
E no segmento de consumo?
Nessa área, nos últimos três ou quatro anos, o crescimento andou sempre nos dois dígitos, entre os 10 e os 12%. Também aqui é natural que haja algum ajustamento, até porque as famílias começam a ter menos rendimento disponível por via da inflacção e da pressão sobre as taxas de juro. Chegar ao final do mês e comprar um computador novo pode não estar no topo das prioridades. Claro que o mercado tem a sua dinâmica, com muitas promoções para tentar quebrar esta tendência, mas é inequívoco que vamos chegar ao final deste ano com menos vendas que em 2022.
Do vosso portfólio de produtos, serviços e soluções, quais vão ser os grandes ‘drivers’ de negócio no próximo biénio?
Todo este novo ambiente de trabalho híbrido levanta muitos desafios, por exemplo, do ponto de vista da infra-estrutura. Os computadores estão, agora, distribuídos por duzentas, trezentas, quatrocentas casas espalhadas por todo o País, em vez de concentrados em dois ou três edifícios. Isto traz imensos desafios, pois o ambiente de trabalho híbrido distribuído é complexo, com influência na gestão dos equipamentos e na segurança.
No final, há sempre o objectivo de tornar toda esta gestão muito mais eficiente e com maiores índices de produtividade, já para não falar na satisfação da experiência digital dos utilizadores. Não nos podemos esquecer de que, ao longo dos últimos dois anos, as pessoas foram criando um ecossistema em casa, foram-se adaptando. Hoje, muitas delas têm um melhor ambiente de trabalho em casa que no escritório, o que coloca muita pressão sobre as empresas, principalmente quando querem convencer os colaboradores a voltar.
Também não podemos esquecer de que, apesar de as pessoas estarem a ir ao escritório, as necessidades de colaboração com outros colaboradores, que não estão lá fisicamente, aumentaram. Actualmente, damos importância à resolução da câmara e da qualidade do som, que antes não dávamos: as empresas estão a olhar para aquilo que é o seu ambiente de salas de reuniões e como incorporam toda a tecnologia de colaboração, de vídeo e meeting rooms para tentar criar mais experiências. Estamos a trabalhar em torno de toda esta tecnologia associada a um contexto de entrega de serviços, que resulte em tornar as empresas mais eficientes do ponto de vista da produtividade e custos. Ou seja, estamos a desenvolver tecnologia para conseguirmos que as empresas e as pessoas tenham uma melhor experiência daquilo que é o trabalho híbrido.
O cliente-tipo empresarial tem vindo a mudar?
No geral, o tipo de empresas com as quais trabalhamos hoje é o mesmo dos últimos anos. A questão é que os seus requisitos, e a forma como querem gerir a tecnologia, é totalmente diferente. Ou seja, têm mais preocupação com tudo o que tem que ver com a experiência do utilizador. Há exigências que há cinco anos não existiam, como a questão da segurança; por outro lado, quando compramos um computador, a memória é, agora, um detalhe, não tem mais importância que tinha. Mas interessa a forma como um computador consegue reagir a eventuais ataques de cibersegurança, a forma como consegue auto regenerar-se, resolver o problema… há aqui outra dinâmica à qual estamos a assistir: a sustentabilidade das soluções tecnológicas, o ciclo de vida do produto, as emissões de carbono, seja na sua produção, seja até na forma como ele vai ser abatido.
Hoje, o que dita o fecho de um contrato? O ROI? O TCO?
No fundo, é o ROI que faz com que um conselho de administração autorize um determinado investimento. Sabemos que, por vezes, manter a tecnologia a funcionar quatro, cinco, seis anos é mais caro, devido à sua manutenção, que comprar uma nova – por isso, o ROI continua a fazer parte da equação. Mas, muitas vezes, o que faz a diferença na decisão da compra de determinada solução tem que ver com os compromissos ou garantias dessa mesma solução. Ou seja, aquilo que a solução que está a ser entregue vai trazer, qual o benefício e se vai ajudar inclusivamente o cliente a crescer, a conseguir ter mais retorno, ser mais produtivo e mais eficiente do ponto de vista financeiro. Nesse campo, diria que as premissas não mudaram muito. Agora, obviamente houve alterações: hoje, é muito difícil uma empresa, que compra quatro mil computadores, não colocar em cima da mesa os seus parâmetros de sustentabilidade.
O panorama da concorrência tem vindo a mudar nos últimos anos?
O mercado de computação já sofreu alguma consolidação, acabaram por ficar três, quatro ou cinco marcas, dependendo do segmento, marcas que se mantêm hoje, seja no ambiente profissional, seja no ambiente de consumo. Não posso dizer que foram surgindo muitas marcas que alteraram, de alguma maneira, o panorama como nós o conhecemos.
Como gostava que a HP em Portugal fosse vista pelos analistas?
O mais importante é que, no final de um ciclo de vida de utilização de um produto, o cliente olhe para trás e tenha vontade de voltar a optar pela HP. E não só porque os produtos corresponderam ao que nós dissemos que eles iam fazer, mas, acima de tudo, porque fomos sendo capazes de os ajudar a tirar mais proveito do produto que têm em mãos, somando assim a vertente da inovação, que fazemos questão de entregar aos nossos clientes. A HP tem o objectivo global de, até 2030, ser considerada a empresa de tecnologia mais justa e sustentável do mundo. Não importa apenas o que fazemos, mas a forma como o fazemos e vemos o futuro. Neste campo, as práticas da HP são algo que nos guiam, que nos dão muito orgulho e que fazemos questão de impregnar naquilo que são as soluções que vendemos aos nossos clientes, no dia-a-dia.