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O novo motor da economia portuguesa é digital

O «’Estudo do Impacto da Economia Digital em Portugal revela uma transformação estrutural que já molda 39% da produção nacional e 23% do emprego. A transversalidade do digital, a urgência do talento e a necessidade de visão económica são agora os pilares de um país que está conectado, mas que precisa de se tornar inteligente.

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Poucas mulheres nas TIC
Mas é na desigualdade de género que a responsável coloca um dos alertas mais urgentes. «Em 2024, apenas 18% dos licenciados em TIC em Portugal são mulheres», observa, acrescentando que, no mercado de trabalho, as mulheres representam apenas 23% dos especialistas em TIC. Para Luísa Ribeiro Lopes, esta assimetria não é apenas uma questão de representatividade, mas uma perda de valor para o país. «Esta exclusão de talento feminino representa um custo incalculável para a nossa capacidade de inovação».

A análise estende-se também à Administração Pública, numa combinação de elogio e prudência. Portugal destaca-se no uso de serviços digitais – 85% dos cidadãos interagem digitalmente com o Estado –, mas a transformação interna ainda não acompanha o mesmo ritmo. «Se, por um lado, somos exemplares na forma como disponibilizamos serviços digitais aos cidadãos e cidadãs, por outro, a transformação interna do Estado revela um caminho por percorrer», afirma. É uma advertência que ecoa noutras partes do estudo: uma administração digital só é plenamente eficaz quando também os seus processos internos, modelos de decisão e práticas de interoperabilidade acompanham a maturidade dos serviços visíveis ao público.

Apesar de tudo, a presidente do .PT mostra optimismo no futuro, mas insiste na necessidade de ambição. «Os dados mostram que a oportunidade é imensa». O país dispõe de conectividade robusta, tem vindo a atrair data centres e possui uma população com hábitos digitais consolidados. Ainda assim, o desafio que coloca é inequívoco: transformar oportunidade em progresso. «Portugal construiu as fundações, mas agora é o momento de acelerar, consciente de que não pode deixar ninguém para trás».

É também nesta última parte da sua leitura que surge a dimensão mais civilizacional da sua mensagem. «Não podemos dar-nos ao luxo de ser meros espectadores. Temos de ser protagonistas activos, corajosos e, acima de tudo, utilizar o digital para exercermos a nossa cidadania de forma plena». E conclui com uma das ideias mais marcantes de toda a reflexão: «O futuro da nossa economia, e sobretudo da nossa sociedade e do nosso bem-estar, depende disso. A visão deve manter-se transformadora, mas, cada vez mais, importa que tenha um propósito humanista, centrado na cidadã e no cidadão e potenciador de uma sociedade mais livre, democrática e inclusiva».

No conjunto, a leitura do estudo e as palavras de Filipe Grilo à businessIT fazem convergir uma ideia-chave: Portugal já venceu a batalha da infraestrutura; a próxima batalha será a da inteligência estratégica. A economia digital está madura. O país conectado existe. O desafio agora é construir o país inteligente: aquele que usa tecnologia para resolver problemas estruturais, gerar valor sustentável, reduzir desigualdades e criar um futuro mais competitivo e mais coeso.

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