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O novo motor da economia portuguesa é digital

O «’Estudo do Impacto da Economia Digital em Portugal revela uma transformação estrutural que já molda 39% da produção nacional e 23% do emprego. A transversalidade do digital, a urgência do talento e a necessidade de visão económica são agora os pilares de um país que está conectado, mas que precisa de se tornar inteligente.

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Talento e inovação de mãos dadas
A par da confiança, talento e inovação são os outros dois vértices do triângulo estratégico. Filipe Grilo descreve a acção necessária nestes três eixos: «Para consolidar Portugal como um verdadeiro hub digital europeu, é essencial agir em três frentes ao mesmo tempo: atrair e desenvolver talento, fomentar inovação com escala internacional, e reforçar a confiança digital como activo estratégico.» Esta visão está alinhada com o estudo, que identifica medidas concretas nas áreas de conectividade, competências, consumo digital, empresas e administração pública.

A análise metodológica incluída no documento confirma que este estudo não retrata apenas o presente: pretende orientar o futuro. Lê-se no estudo que «Portugal dispõe hoje das condições técnicas e humanas para se afirmar como um dos ecossistemas digitais mais avançados da Europa», mas que «a transformação digital só se traduzirá em prosperidade se for acompanhada por visão política, investimento estratégico e acção coordenada». É um aviso e uma oportunidade.

Entre as vozes analisadas no estudo, a reflexão de Luísa Ribeiro Lopes, Presidente do .PT, surge como uma das leituras mais incisivas sobre o estado da economia digital portuguesa. A sua visão parte de um dado central: o ecossistema digital já representa uma parcela estrutural da economia nacional, alimentando produção, emprego e receita fiscal. Mas, para a responsável, estes números não escondem a realidade complexa que o país ainda enfrenta. «Estes dados confirmam que o digital não é uma promessa futura ou um sector de nicho, é um pilar central da nossa capacidade produtiva e um motor indispensável para a nossa competitividade», observa, sublinhando que Portugal vive um momento de viragem, mas ainda marcado por contrastes profundos.

O primeiro destes contrastes é revelado na distância entre a utilização e a transacção digitais. Portugal tem uma das populações mais conectadas da Europa, mas está abaixo da média europeia na compra e venda de bens e serviços online. «O mais evidente é o fosso entre a utilização e a transação», afirma, recordando que apenas 59% dos portugueses compram online, muito abaixo dos 72% da UE. O mesmo se verifica no tecido empresarial: mesmo entre empresas que já têm contacto com canais digitais, o peso real da facturação online permanece surpreendentemente reduzido.

Para Luísa Ribeiro Lopes, esta é uma fragilidade estrutural que limita o aproveitamento do potencial digital. E, segundo a sua análise, a raiz do problema é mais profunda. «O estudo revela que muitas empresas, sobretudo as de menor dimensão, ainda não investem num site próprio a que se aliem endereços de e-mail profissionais e credíveis, ao invés dos genéricos, encarando-os como um custo em vez de um investimento estratégico». Sem presença digital própria – «apelamos que seja sob .pt» – as PME não conseguem construir reputação, comunicar de forma credível nem converter a sua oferta em valor económico real.

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