Filipe Grilo reforça esta leitura ao afirmar que «a escassez de talento digital é hoje um dos maiores obstáculos à transformação da economia portuguesa». E acrescenta: «Do que o País precisa são de líderes capazes de integrar tecnologia nas decisões de negócio, que saibam redesenhar processos, gerir com base em dados, incorporar princípios de ética digital, e alinhar pessoas e tecnologia em torno de objectivos concretos de valor e impacto». Nesta visão, o ensino superior, e particularmente as escolas de negócios, têm um papel estratégico. O coordenador afirma que estas instituições devem «formar talento digital, mas também formar liderança digital», reformulando programas, cruzando competências e aproximando a formação de problemas reais.
As assimetrias territoriais
Num país onde o interior continua a perder população e investimento, o estudo dedica um capítulo importante às assimetrias territoriais. A análise territorial mostra que o litoral, especialmente Lisboa, Porto e Braga, concentra os maiores níveis de maturidade digital, enquanto regiões interiores apresentam défices significativos na adopção de tecnologias avançadas, na qualificação do emprego e na capacidade de atrair investimento digital. Lê-se no documento que «persistem desigualdades regionais que condicionam o pleno aproveitamento do potencial digital», e que a digitalização, se mal-conduzida, pode acentuar desigualdades.
Filipe Grilo não suaviza a mensagem: «Sem políticas públicas bem pensadas, a digitalização pode, paradoxalmente, agravar estas assimetrias e acelerar a desertificação do interior». No entanto, o estudo sublinha que o digital pode ser uma oportunidade para contrariar tendências demográficas. A tecnologia reduz a importância do espaço geográfico, permitindo trabalho remoto, inovação descentralizada e criação de cadeias de valor locais. Mas, como nota o documento, essa oportunidade só se concretiza com «uma estratégia activa de inclusão territorial, baseada em competências, conectividade e apoio à inovação local».
O estudo identifica também áreas críticas para o futuro: inteligência artificial, automação, segurança digital, ética e regulação tecnológica. A IA, em particular, é descrita como «o novo motor de produtividade», com potencial para transformar sectores como saúde, educação, indústria e administração pública. No entanto, o documento alerta para riscos associados – desde desigualdades de acesso à tecnologia até preocupações éticas e de governança – e sublinha a importância de políticas públicas que assegurem transparência, supervisão e confiança.
É precisamente esta ideia de confiança que ocupa um lugar central nas recomendações finais. Filipe Grilo afirma que, para que Portugal se consolide como hub digital europeu, é essencial reforçar este pilar: «Num mundo onde os dados, os algoritmos e a IA assumem um papel central, os países que forem reconhecidos pela transparência, protecção de dados, cibersegurança e ética digital serão os mais atractivos para investimento e para talento qualificado». O estudo acrescenta que confiança digital é hoje um activo económico, determinante para a competitividade internacional e para a capacidade de atrair empresas e projectos de inovação.









