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Indústria 5.0: o ser humano volta a estar no centro da evolução industrial

A Indústria 5.0 regressa a um paradigma centrado no ser humano, aliando tecnologias avançadas à criatividade e destreza dos trabalhadores. Em Portugal, exemplos concretos já demonstram como esta combinação potencia a inovação, a resiliência e a sustentabilidade.

© DC Studio/Freepik

Segundo dados fornecidos pela ANI, a nível europeu, Portugal beneficia de financiamento através do Horizonte Europa, que disponibilizou, até ao momento, mais de 1,4 mil milhões de euros para projectos que visem alcançar a liderança global em cadeias de valor industriais neutras em carbono, circulares e digitalizadas. Deste montante, segundo António Grilo, Portugal captou cerca de 28,3 milhões de euros, traduzindo-se em 45 projectos financiados, nos quais participam 33 empresas: «Participámos com projectos como o XR5.0, focado na realidade aumentada para a Indústria 5.0, e o PROSPECTS 5.0, que analisa factores impulsionadores da transição industrial». Para o presidente, os programas de apoio à inovação «podem ser fundamentais para acelerar a adopção da Indústria 5.0 nas empresas portuguesas, ao fornecer recursos financeiros, conhecimento técnico e incentivos necessários para a implementação tecnológica e organizacional».

Investir em inovação é um desafio
O principal desafio da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) no incentivo às empresas portuguesas para adoptarem práticas inovadoras que alinhem a automação e IA com o factor humano reside na capacitação das empresas para investir mais em inovação, explicou Rafael Alves Rocha, director-geral da CIP: «Apenas através do investimento será possível incorporar inovação nos produtos, serviços e processos. Outro desafio é o de encontrar, atrair e reter recursos humanos qualificados que tornem possível essa inovação». O executivo disse ainda que, nos seus processos de inovação, as empresas devem interagir com a sua envolvente: «Torna-se fundamental a abertura do processo de inovação da empresa a contributos, sugestões e inputs vários oriundos do exterior, nomeadamente clientes, fornecedores, concorrentes, universidades, centros tecnológicos e  startups, entre outros». Este paradigma, sustenta o executivo, implica uma mudança de atitude das empresas, no sentido de uma verdadeira colaboração com as instituições académicas, científicas e tecnológicas: «Na verdade, a aproximação entre o mundo empresarial e o mundo académico, com códigos, culturas e linguagens ainda profundamente distintas, é basilar para o sucesso dos processos de inovação».

O director-geral garante que a intervenção da CIP no domínio da inovação, incluindo a automação e o seu alinhamento com o factor humano, não é de hoje: «Lembramos, a título de exemplo, o estudo ‘O Futuro do Trabalho em Portugal’ publicado em 2019». Neste estudo, é abordado o impacto da automação no futuro do trabalho, tendo como pano de fundo o papel cada vez mais significativo na economia da robótica e da inteligência artificial.

Na base da intervenção da CIP está, sobretudo, a «defesa de políticas públicas que criem condições mais favoráveis à superação dos desafios que identificámos, nomeadamente políticas públicas que ajudem a desbloquear o investimento privado em inovação, particularmente em termos de acesso ao financiamento». Também importante é, para Rafael Alves Rocha, a promoção da qualificação dos recursos humanos. Um esforço que, admite, não poderá resumir-se a um aumento do número de anos de escolaridade da população: «Exige um papel activo, tanto do Governo, como do sector privado, no processo de reconversão da força de trabalho e da sua permanente adequação às necessidades das empresas. Não só temos necessidade de um forte investimento na qualificação, como também de mercados de trabalho flexíveis, facilitando quer a adaptação dentro de cada empresa, quer a mobilidade dos trabalhadores entre empresas e sectores».

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