Reportagem

Após oito edições, Web Summit continua a valer a pena para startups e investidores

A conferência dedicada ao empreendedorismo está em Lisboa desde 2016 e, nesta oitava edição, fomos perceber junto de startups, investidores e entidades do ecossistema, presentes em diversas edições, se a mesma ainda vale a pena. A opinião de todos é unânime: a Web Summit continua a ser revelante e importante para promover a inovação nacional.

Harry Murphy/Web Summit© Harry Murphy/Web Summit

A Web Summit de 2024 foi de recordes, quer em termos do número de participantes, quer em termos de startups e delegações de países com a Alemanha e o Brasil a liderar. Na conferência de imprensa que deu durante o evento, Paddy Cosgrave, co-fundador da conferência, revelou que reflectiu sobre o formato da Web Summit e foi por isso que decidiu organizar os meetups (encontro mais pequenos entre participantes com os mesmos interesses) e colocar mais espaços com cadeiras e mesas para que as pessoas possam fazer networking. O responsável disse, quando questionado sobre o final do contrato em 2028, que «a Web Summit encaixa lindamente em Lisboa e espera ficar aqui para sempre».

Mas por que motivo o evento continua a atrair empresas ao fim de oito anos? A verdade é que continua a valer a pena. Ouvimos startups e investidores nacionais, que já vieram a diversas edições da conferência, e que continuam a achar a mesma relevante quer a nível individual, quer para o ecossistema.

Bernardo Tavares, CTO e co-fundador da Granter.ai, que vai à conferência desde que se realiza em Lisboa, explica que «continua a ser um local de contactos e oportunidades» e que «permite encontrar quem é relevante no ecossistema num único sítio». O responsável destacou ainda a importância dos «sides events» que acontecem, antes, durante e depois do evento principal.

Ter objectivos claros
A Framedrop.ai, que também tem estado em diversas edições partilha a mesma ideia e JD Costa, CEO e co-fundador da startup, disse à businessIT, que «vale sempre a pena ir» e revelou que o propósito deste ano foi «conhecer os potenciais clientes de media nacionais» para testarem a nova solução que desenvolveram, mas que no passado, foi «investimento».

Dulce Guarda, co-fundadora e chief growth officer da Splink, avançou que estar no evento é importante «principalmente por causa da exposição de marca» e deu um exemplo: «Estamos aqui, mostramos e explicamos o projecto a pessoas que ainda não nos conhecem e, portanto, a valorização da marca a nível de branding é muito interessante». Este ano, a scaleup esteve no stand da Startup Portugal/Unicorn Factory, o que foi «uma grande mais-valia» já que trouxe, «outro tipo de público» e «visibilidade».

Outra startup presente em múltiplas edições e em grande fase de crescimento é a Starkdata. Paulo Figueiredo, CEO e co-fundador da startup explicou que quando vieram «como Alpha (em início de actividade) era um céptico», mas reconheceu que estava enganado: «Posso dizer que aquilo que somos hoje é, em parte, graças à nossa participação na Web Summit. Não teríamos ido aos Estados Unidos se não tivéssemos presentes no evento. Acho é que as pessoas devem vir, mas devem trabalhar enquanto cá estão no sentido de criar as ligações e aproveitar todas as oportunidades».

Investidores de acordo
As empresas de venture capital estão de acordo sobre a importância da conferência. Tomás Penaguião, partner da Bynd VC, referiu que a «experiência nas edições da Web Summit tem sido positiva e relevante para o trabalho enquanto investidores» já que oferece «uma plataforma única para fazer networking com fundadores, startups, corporates e outros investidores, nomeadamente co-investidores internacionais que, por vezes, só visitam Portugal nesta ocasião». O responsável acrescenta que a Web Summit transforma Lisboa «no epicentro da inovação global e a confluência de stakeholders deste ecossistema». Sobre os oito anos da conferência, Tomás Penaguião indicou que «continua a ser uma referência no panorama global de tecnologia e empreendedorismo, cujo impacto excede o evento em si. É uma montra que exibe Portugal como um ecossistema inovador e dinâmico, destacando os avanços e o potencial do País no sector tecnológico e cativando investidores e startups que olham para Portugal como um ponto estratégico de entrada na Europa».

Já Tomás Lavin Peixe, partner da Lince Capital, salientou que a conferência é «muito importante para a cidade de Lisboa e para Portugal» e tem «servido para colocar no mapa as startups portuguesas». Já enquanto investidores, a Web Summit «permite avaliar as tendências» que vão surgindo, sendo um dos outros grandes benefícios, ao longo dos anos, «os side events» que permitem «conhecer e fazer networking com VC de outras nacionalidades».

Promoção do que se faz em Portugal
No lado das entidades responsáveis pela promoção do ecossistema empreendedor, há também um sentimento positivo sobre o evento criado por Paddy Cosgrave. Vítor Ferreira, director geral da Startup Leiria, diz que «o balanço da presença nacional tem sido um reflexo do ecossistema: uma comunidade de startups resiliente, com talento criativo, mas que enfrenta desafios estruturais em termos de financiamento e escala». Assim, a Web Summit foi (e é) importante porque «trouxe visibilidade global», mas indica que «o impacto real – medido pela retenção de talento qualificado, pelo aumento de capital de risco ou pela maturidade das nossas empresas – ainda parece ficar aquém do seu potencial». Desta forma, considera que deve existir «uma reflexão mais profunda sobre como capitalizar o momento para uma transformação estrutural do ecossistema». No entanto, o responsável disse que

«após oito anos, a importância da Web Summit para o ecossistema empreendedor nacional não reside apenas no evento em si, mas naquilo que ele simboliza: a capacidade de Portugal de estar no centro das discussões globais sobre tecnologia, inovação e sociedade», ou seja, «mantém-se importante porque não só conecta Portugal ao mundo, mas desafia o ecossistema a ser mais ambicioso, mais colaborativo e mais competitivo».

A Startup Portugal «tem marcado uma presença muito activa ao longo dos anos na Web Summit», como indicou António Dias Martins, director executivo da entidade. «Este evento tem sido também uma plataforma essencial para fortalecer relações com os principais players do ecossistema global, contribuindo para posicionar Portugal como um dos países mais inovadores e atractivos para a criação e desenvolvimento de startups», acrescentou. É por isso que considerou que «continua a ser essencial pois reúne, num único espaço e na mesma altura, todo o ecossistema» e esse «encontro de ideias, de discussões e apresentações permite fomentar a inovação, facilitar a formação de parcerias estratégicas e acelerar a criação de valor. A Web Summit é, assim, uma plataforma para projectar o país não só na Europa, mas também a nível global».

Brasil em destaque
Com uma delegação apenas ultrapassada pela Alemanha, o Brasil trouxe à Web Summit diversas startups que mostram que, no país, a inovação e o empreendedorismo são temas de revelo. Maria Paula Velloso, manager de indústria e serviços da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) esclareceu à businessIT que trabalham com startups desde 2017 e trazem estas empresas ao evento nacional desde 2019. A responsável acrescentou que o objectivo «é a promoção da imagem do país e mostrar o que o Brasil tem de melhor». Este ano, «fizeram uma pré-selecção» de onde a «organização da conferência escolheu uma parte (82) para fazerem parte dos programas Alpha, Beta e Growth», conforme a sua maturidade. As restantes foram escolhidas com base «num processo de selecção» com ajuda do Sebrae (o equivalente ao IAPMEI em Portugal), o que originou mais «50 empresas inovadoras» de origem brasileira no evento nacional. Para o próximo ano, Maria Paula Velloso avançou que a estratégia já está a ser pensada e que passa por «aumentar ainda mais a diversidade» e pedir ajuda «às diversas instituições brasileiras dos diferentes estados», para terem «uma delegação ainda mais robusta e preparada para gerar negócios internacionais».

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