Em discurso directo: Quais os desafios éticos e de privacidade que o uso crescente de tecnologias no marketing coloca às empresas e consumidores?
João Sousa, chief digital transformation & innovation officer na IPG Mediabrands
«É um tema altamente relevante e de grande impacto nas nossas vidas e sociedade. A tecnologia desafia qualquer barreira que conhecemos a nível de ética e privacidade. Destaco três temas que penso serem de extrema importância para o tópico. Primeiro, a aplicação e forma da lei e regulamentação. A privacidade e a forma como a privacidade é garantida na nossa sociedade, tem de constar e ser um direito individual e quem não operar os seus negócios e colocar consumidores num contexto diferente através da tecnologia, deverá ter repercussões a nível dos seus negócios e da sua operação e claro a nível da sua percepção de marca. Segundo, a responsabilidade das nossas acções. Como indivíduos e consumidores somos também responsáveis por alimentar todo o ecossistema de dados em IA e respectivos modelos (exemplo, redes sociais). Isto leva-me a acreditar, que agir e ter comportamentos de forma cada vez mais pro humanidade, será um benefício próprio. Por último, a nível ético, um ponto bastante sensível pela própria definição da palavra. De uma forma muito simples, se os consumidores continuarem a ter o poder de decisão, podem influenciar o sucesso ou insucesso das marcas, a profundidade da sua relação com as mesmas, e ligação entre os seus valores e os valores que percepciona as marcas»
João Trigo, managing director da EDC
«Como aconteceu no passado em processos semelhantes na história dos avanços tecnológicos, o uso crescente de tecnologias no marketing levanta questões importantes sobre ética e privacidade. Como sabemos, a recolha/utilização de dados pessoais e a manipulação de informações são alguns dos desafios. Neste campo, consideramos que as empresas precisam de ser transparentes sobre a forma como recolhem e usam os dados, garantindo a privacidade dos consumidores e merecendo a sua confiança. O marketing de guerrilha, por exemplo – cada vez mais potenciado pelas tecnologias – é mais “agressivo”, mas, ainda assim, deve obedecer a regras. A provocação e o desafio são argumentos legítimos de marketing, mas saber lidar com os limites éticos é essencial».
Bruno Almeida, managing director da EssenceMediacom
Esta é uma das áreas que mais desafios irá colocar às marcas e empresas nas suas relações com a sua base de clientes. As empresas enfrentam a necessidade de proteger rigorosamente os dados recolhidos, assegurando a sua segurança contra violações e garantindo o consentimento informado dos consumidores. É imperativo que utilizem esses dados de maneira responsável e ética, evitando qualquer forma de manipulação negativa do comportamento do consumidor. A transparência na utilização de dados e tecnologias é vital para manter a confiança dos consumidores, que devem ser informados de forma clara sobre a forma como os seus dados são usados.
Respeitar os direitos digitais dos consumidores, incluindo o direito à privacidade e à exclusão dos seus dados pessoais, é outro ponto crucial. As empresas devem estar em conformidade com regulamentos como o RGPD, que oferece um quadro para a colecta e uso de dados pessoais. A confiança do consumidor é um activo valioso, e práticas de marketing que violem princípios éticos podem prejudicar seriamente a reputação de uma marca.
Diogo Pinheiro, COO & managing partner da Legendary
«Acima de tudo, acredito que obriga as empresas a serem mais responsáveis, tanto no tratamento como no armazenamento dos dados. Os desafios éticos, para mim, não mudam: ou praticamos o bem ou não. Não é por termos mais informação que devemos usá-los de forma não-ética».