Na sede da Acer para a região da Europa, Médio Oriente e África (EMEA), em Lugano (Suíça), e à margem do evento ‘Road to Fifty’, Massimiliano Rossi explicou à businessIT como a tecnológica tem evoluído, a aposta no mercado empresarial e o crescente foco na sustentabilidade.
A Acer comemora cinquenta anos em 2026. Como é que tem sido este caminho?
A empresa mudou muito, ao longo dos anos. No início, o objectivo era fazer grandes volumes e ser uma marca acessível. Havia muita procura e tivemos um papel muito importante para permitir que as pessoas tivessem acesso a computadores com preço mais baixos. Depois, mudámos e a estratégia passou incidir na forma como podemos trazer mais valor além do produto. Com esta mudança, adoptámos novos negócios e, hoje, o negócio não-PC corresponde a 30%. Valorizamos mais a tecnologia, a inovação e focamo-nos mais na qualidade e na proposta de valor. É uma jornada. Se, no passado, concebíamos produtos para lançar no mercado e a dizíamos «este é o PC de que precisa», agora invertermos o processo: vamos ao encontro do cliente, do utilizador final – compreendemos as suas necessidades, problemas, e através da tecnologia, desenvolvemos soluções.
Qual é a vossa estratégia para o mercado europeu, dado que existem grandes diferenças entre países muito pequenos, como Portugal, e grandes, como a Alemanha ou o Reino Unido?
A EMEA representa um terço das nossas receitas totais, que são de quase oito mil milhões de dólares, e é uma região onde temos dois mil colaboradores. A nossa abordagem baseia-se no tamanho, no potencial e na maturidade do mercado; claro que um mercado mais pequeno talvez precise de menos pessoas, mas isso não significa que não seja tão importante como um maior. Quando olhamos para o nosso desempenho, é sempre do ponto de visto da quota de mercado que temos. Queremos ser relevantes nesse ponto de vista, quer ao nível do consumo, quer ao nível empresarial, e também em sectores verticais. Por exemplo, alguns mercados estão muito desenvolvidos no domínio da educação – aí, temos uma equipa mais forte; outros, um pouco menos, pelo que nos adaptamos à situação.
Estão com um grande foco no mercado B2B. Qual é o maior desafio que sentem neste segmento?
Devo dizer que os desafios não são muito diferentes dos do mercado de consumo. Aqui, é preciso ter um bom produto a um bom preço. No empresarial, há a questão da fiabilidade e tem de haver relação de confiança. Caso o cliente tenha um problema, tem de saber que pode contar connosco e que somos um bom parceiro. A área empresarial é mais difícil de construir e leva mais tempo, mas quando se consegue, se não se cometerem grandes erros, dura mais tempo. É por essa razão que queremos continuar a desenvolver um negócio empresarial sólido em toda a região da EMEA. Actualmente, temos um bom desempenho e somos muito fortes em alguns segmentos, como a educação; e em alguns mercados como, por exemplo, em Espanha. Mas queremos ter um bom equilíbrio entre o mercado do consumo e o empresarial, porque, quando isso acontece, há um melhor desempenho global e uma melhor percepção da marca. É esse o nosso objectivo.
Como foram os vossos resultados financeiros no ano passado e que previsões têm para este ano?
O ano passado foi difícil, para a empresa. No período do COVID, o mercado no cresceu tanto, que agora estamos num período de ajuste com a contracção da procura. No primeiro trimestre de 2024, ainda não vemos o mercado a recuperar, mas está a melhorar. O desempenho do mercado empresarial é um pouco melhor que o do consumo e há espaço para progredir. Em alguns mercados, esperamos assistir a uma pequena recuperação, sobretudo na segunda parte do ano. Mas também é verdade que continuamos a viver num ambiente muito imprevisível e desafiante, na Europa. A taxa de crescimento do FMI para esta região, em 2024 e 2025, é baixa, devido aos dois conflitos no continente, mas estamos confiantes. Temos muitos dispositivos antigos com Windows 10 (que vão ter de ser renovados), as inovações de IA e a área da educação, onde a Comissão Europeia está a investir bastante dinheiro para melhorar as infraestruturas. São muitos os elementos que nos fazem acreditar num futuro promissor, na última parte de 2024 e, seguramente, em 2025. Como empresa, o nosso objectivo é crescer ano após ano e estamos, hoje, numa boa trajectória de crescimento, apesar dos desafios.
A Acer sempre teve uma abordagem muito forte à sustentabilidade. Como é que incorporam isso nas vossos produtos e operações?
A Acer tem mais de trinta milhões de dispositivos feitos com matériais reciclados. A nossa gama Vero é fabricada com materiais PCR e com menos 30% de emissões de CO2. Temos o objectivo de sermos neutros em carbono até 2050 e, para isso, catorze dos nossos escritórios já são abastecidos com 100% de electricidade de fontes renováveis, entre os quais a sede da EMEA, onde estamos. Desmaterializamos o máximo possível o papel, fazemos um grande esforço para incentivar as pessoas a usar carro eléctrico, fornecendo o carregamento a uma taxa simbólica que é doada a instituições de caridade. Temos a aplicação Earth Mission, desenvolvida para promover e criar hábitos ecológicos, não só para colaboradores, mas também parceiros, fornecedores e utilizadores e, em Maio, relançámos a iniciativa #MoreToEarth, destinada a reduzir a utilização de plástico.
E em relação à cadeia de abastecimento?
Estamos a trabalhar para que os nossos parceiros, incluindo a cadeia de abastecimento, se comprometam a utilizar energias renováveis. Queremos que, em 2025, cerca de 80% dos nossos principais fornecedores tenham aderido à RE100 ou à Science Based Targets Initiative.
Temos uma lista de fornecedores, vemos os que têm uma estratégia de ESG semelhante à nossa e usamos isso no benchmarking; usamos este elemento para escolher qual é o mais favorável e sustentável.
Como é que a Acer vê o direito à reparação da União Europeia para fomentar a economia circular?
Estamos em contacto com a Comissão Europeia para compreender exactamente como vai funcionar do ponto de vista jurídico, dar o nosso contributo e trabalharmos em conjunto. O direito à reparação vai ser benéfico para o utilizador final, já o conseguimos fazer e podemos, até, alargar a garantia para cinco anos. Mas temos de perceber que tem de existir um equilíbrio, porque se formos demasiado longe, podemos estar a criar mais resíduos. Os componentes concebidos pela Acer podem estar disponíveis durante dez anos, mas depois todos os outros fornecedores têm de participar, caso contrário, se apenas uma parte da cadeia de abastecimento se comprometer, o tiro pode sair pela culatra. Além disso, se isto não for feito de forma equilibrada, pode aumentar enormemente os custos para o utilizador final e não ser realmente bom para o planeta, porque se está a criar mais resíduos ao fabricar mais componentes. Portanto, é um tema muito sério em que estamos a trabalhar, mas com muita atenção para não comprometer a sustentabilidade.
Como viram o lançamento dos Copilot+ PC. É uma oportunidade?
Lançámos recentemente um modelo Swift com catorze polegadas. Acreditamos que a Qualcomm é uma boa oportunidade e que a Intel e a AMD também podem ser fortes. Achamos que vai haver espaço para todos e que a concorrência é boa e traz valor ao mercado. Por exemplo, com os processadores da Qualcomm o consumo e a eficiência da bateria melhorou imenso, o que, no geral, é bom para todos.
Um dos pilares da Acer é o Device-as-a-Service. Pode falar-nos um pouco mais sobre este tema e sobre a sua evolução?
Penso que toda a gente estava à espera que o DaaS explodisse e isso não aconteceu. Há alguns anos, lembro-me, aconteceu o mesmo com o metaverso. Por isso, penso que algumas tendências talvez existam, mas não tão rapidamente como prevíamos, e a Acer quer ter as ferramentas prontas quando estas chegarem. Vai depender realmente da evolução desta tendência e das necessidades dos clientes e poderá ser diferente, de país para país, de utilizador para utilizador, de segmento para segmento. Com o DaaS, estamos a fornecer ferramentas que valorizem os nossos revendedores e já vemos a sua utilização em alguns negócios empresariais de alto nível, mas não nas PME. Ainda não explodiu, mas estamos prontos para quando isso acontecer.
Como gostaria de ver a Acer daqui a cinco/dez anos?
Gostaria que fosse uma empresa mais virada para o lifestyle e uma marca que transmite emoção além dos dispositivos. Esta é uma viagem que já iniciámos com diferentes produtos, porque é a forma de nos ligarmos às novas gerações já que não estamos no mercado dos smartphones. Precisamos de aumentar o segmento de lifestyle e ter mais produtos disponíveis para complementar o nosso core business. Mas com a tecnologia nunca se sabe: pode acontecer algo revolucionário e inovador ao nível de um dispositivo ou de uma aplicação.
Para já, a estratégia a longo prazo é estarmos mais ligados ao lifestyle, às emoções além do mercado de PC tradicional e continuar a manter uma forte presença no sector empresarial, porque é parte da infraestrutura da nossa empresa e isso e não vai mudar.