A Seedsight surgiu «literalmente numa conversa de café» onde se tentava perceber se a tecnologia podia resolver um dos grandes problemas da indústria da moagem, ou seja, a «dificuldade de selecção de fornecedores e controlo de qualidade dos grãos adquiridos, face a uma enorme variabilidade de características entre campanhas», explica Joana Paiva, CEO da startup de deeptech.
A equipa acabou por identificar mais desafios, ao falar com players e especialistas do sector, salienta a responsável: «Falta de métodos rápidos e de baixo custo para triagem de qualidade de matérias-primas, falta de conhecimento mais preciso e quantitativo sobre a influência das características dos cereais no desempenho das máquinas de moagem e a falta de verificação da matéria biológica pelos métodos de rastreabilidade da cadeia alimentar». A Seedsight nasceu, assim, com a «motivação social comum» de «aumentar o número de alimentos disponíveis para sociedade, utilizando os mesmos recursos».
Mais alimentos para todos
A CEO da startup esclarece que a indústria da moagem pode «perder até 15% da sua produtividade quando converte grãos de cereais em farinha/produtos alimentares» e que, ao combinar «inteligência artificial com conceitos de óptica de última geração», o sistema permite a essa indústria e toda a cadeia de valor associada «tomar decisões acerca dos cereais com acesso a diversas métricas» de forma a evitar o desperdício». O objectivo é, assim, «ampliar a disponibilidade de alimentos para as gerações futuras, maximizando a utilização dos recursos existentes».
A solução da Seedsight é diferenciadora, segundo Joana Paiva, porque «permite analisar uma amostra representativa do lote inteiro de cereais recebidos em quase tempo real, a um baixo custo, disponibilizando mais de trinta características numa única análise. Para a CEO, a abordagem também é pioneira pelo facto de «conseguir prever a taxa de extracção de cada tipo de cereal, quando convertido em farinha, assim que chega à fábrica, muito antes de ser, sequer, moído».
De acordo com as simulações da startup, a plataforma poderá «reduzir o tempo de selecção dos melhores grãos em 89% e permitir uma diminuição dos custos de triagem da qualidade dos cereais adquiridos em 8%, aumentando a produtividade em 20%», revela a empreendedora.
Crescer a vários níveis
Incubada na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, a Seedsight tem uma equipa composta pela CEO e pelos co-fundadores Paulo Santos e Gonçalo Ramos, mas quer aumentar o número de colaboradores. O «plano de recrutamento» prevê a contratação de «até dez profissionais» para este ano nas áreas de «tecnologia e desenvolvimento de produto».
A empresa nacional está, ainda, a fazer um projecto em África, tem pilotos a «nível ibérico», mas pretende «expandir também para outras geografias na Europa». Assim que «todos os testes de validação sejam realizados e cumpridos», o objectivo passa rapidamente por entrar no mercado», avança Joana Paiva. A longo prazo, a Seedsight quer «proporcionar também um sistema ao nível do cultivo para se perceberem as propriedades das sementes que originam os grãos de maior qualidade e que permitem produzir uma maior quantidade de alimento», conclui a responsável.