A mobilidade sustentável é cada vez mais uma preocupação da população e governos, com a eletricidade a surgir como uma das alternativas para reduzir o consumo de combustíveis fósseis.
Isto acarreta novos desafios, nomeadamente no que se refere à rede eléctrica, já que a massificação deste tipo de transporte «pode levar ao colapso da rede de distribuição de energia devido às necessidades de carregamento», esclarece Jorge Antunes, director da Hitachi Vantara Portugal para a região da Europa, Médio Oriente e África. O projecto britânico Optimise Prime, que está a ser desenvolvido com a ajuda desta empresa, das frotas da Uber e da Royal Mail e a ser liderado pelo regulador britânico para o sector da energia Ofgem, quer contribuir para dar resposta a este problema.
O responsável explica que «criar esta infraestrutura sem uma análise das necessidades representaria um custo elevado, que se reflectiria nas contas de eletricidade da população ou pela própria frota, factores que desincentivam a adopção desta alternativa de mobilidade». Assim, este projecto quer «identificar as necessidades que frotas eléctricas de diversos serviços de transportes e entregas têm e desenhar possíveis respostas». O responsável diz que este «é, actualmente, o maior estudo a nível mundial com veículos eléctricos comerciais».
IoT e IA são elementos centrais
O Optimise Prime utiliza a plataforma de Internet of Things (IoT) Lumada que agrega a informação recolhida das viaturas (três mil veículos) e dos postos de carregamento que tem sistemas que registam a informação de consumo em tempo real.
Com base nesta informação é «possível trabalhar modelos de tarifas e de consumo que permitam aos diversos operadores de energia fazer uma prestação de um serviço fiável e a preços interessantes». A solução da Hitachi tem capacidade de «receber dados das mais diversificadas fontes e depois fazer o seu tratamento, quer do ponto de vista de limpeza dos dados, quer do ponto de vista de aplicação de modelos de inteligência artificial para apoiar a decisão de criação desses modelos de utilização futura». Em Portugal, a Hitachi ficou com a responsabilidade da criação de toda a plataforma tecnológica e de apresentar os resultados, que serão «tornados públicos em 2021».
Portugal em risco
No mercado nacional, «o número actual de veículos eléctricos cria uma procura muito superior à infraestrutura disponível, pelo que é importante antecipar estas necessidades e possíveis respostas através deste tipo de estudos», diz Jorge Antunes. Para mitigar este problema, é necessário partir de uma análise de mercado e das infraestruturas existentes: «Se nos basearmos nas necessidades de exemplos actuais dos veículos a combustíveis fósseis, conseguimos estimar quais vão ser as necessidades de carregamento futuras. Imaginemos que temos cem veículos numa cidade que funcionam a diesel: se considerarmos que 80% dos mesmos serão convertidos em veículos eléctricos, precisamos de saber a seguir onde é que vamos colocar os postos de carregamento adicionais para serem úteis a estes veículos. No entanto, existem algumas limitações e esta previsão torna-se complexa, uma vez que os padrões de consumo e de utilização são bastante diferentes dos veículos a diesel».
Assim, projectos como Optimise Prime permitem «a compreensão em detalhe da dispersão de perfis de carregamento e de utilização para poder estimar como deve ser feita a distribuição da futura rede».